Música armorial, antiga e expressões artísticas correlatas.

domingo, 24 de outubro de 2010

CARLOS MAGNO EM CANTORIA

Dos exímios cantadores cearenses Geraldo Amâncio e Zé Fernandes, "Carlos Magno em Cantoria", um disco composto de 5 faixas, cada uma composta de modalidade diferente de cantoria, todas tratando do mito do herói cavaleiresco medieval, Carlos Magno, sob a óptica dos poetas.

Segue o texto do encarte, da Prof. Dra. da UECE, Elba Braga Ramalho:

"Carlos Magno em Cantoria é o que apresentam os repentistas do Ceará, em forma de CD, nesta pequena mostra da riqueza poética de um dos gêneros mais importantes do cancioneiro de tradiçao oral brasileira. A cantoria circunscreve-se, principalmente, ao sertão do Nordeste do país. Nas contínuas migrações dos nordestinos que fogem das secas periódicas (longos períodos de estiagem), foram abertos novos espaços para a representação desta arte em outros pontos do Brasil. Por isso, ela também pertence de fato a cultura urbana, embora, em todos os seus elementos constitutivos, seja parte da cultura rural. Ainda no século XIX, a cantoria abrigava o repente e os poemas épicos. Estes complementavam lutas poéticas-musicais dos repentistas, os quais acumulavam ambas as atividades. A cantoria estabeleceu a elaboração formal da poesia épica nordestina. No início do século XX, deu-se uma ascensão da poesia épica, decorrente de sua divulgação impressa em folhetos e do interesse que o improviso despertou nos intelectuais da época. Esse fato provocou um grande desenvolvimento da poesia popular épica, resultando disso uma primeira divisão de trabalho que mais favoreceu aos poetas do que aos cantadores. No entanto, a cantoria continuou a ser divulgada pelos próprios cantadores, e tem demonstrado sua vitaiidade através da revalorização de formas tradicionais e da incorporação de novas formas. A cantoria, propriamente, é gênero artístico que tem no desafio luta poético-musical improvisada entre dois cantadores um de seus modos de representação. Na dimensão poética, ela integra uma variedade de gêneros ou modalidades que compreendem a organização das estrofes, principalmente, em versos de cinco, sete, dez e onze sílabas poéticas, com rimas e ritmo poético variáveis. Dentre as distintas estruturas estróficas, destacam-se as sextilhas, o gênero mais popular, cujas estrofes contém versos de sete sílabas monorrimas e as décimas, que comportam versos de sete ou dez sílabas, com maior destaque para diferentes gêneros decassilábicos, a exemplo do martelo e de outros mais. Alguns dos gêneros poéticos contêm refrão, motes, ou ainda estão presos a normas mais estritas como no galope soletrado. As sextilhas e as décimas permitem ao cantador demonstrar sua virtuosidade no ato de improvisar. No âmbito musical, cada gênero ou modalidade de repente comporta uma toada que consta de uma linha melódica, geralmente no âmbito escalar de uma oitava, submetida à rítmica do verso. Não é rígida quanto à determinação dos intervalos musicais, permitindo aos cantadores derivações dentro do próprio contorno melódico. Sua reprodução nunca é idêntica entre os próprios parceiros, mesmo em se tratando de algumas formas como o Brasil caboclo, o martelo, o mourão, nos quais o modelo melódico é mais estável. Os ouvintes da cantoria integram um universo muito heterogêneo em termos de status social, mas conseguem manter-se unificados diante dos poetas cantadores, certamente porque eles representam, simbolicamente, a memória viva de sua cultura. Desse público fazem parte o rurícola, o vaqueiro, o pescador, o pequeno comerciante, o fazendeiro, o político, o profissional liberal, o padre, o empresário, enfim, os representantes das diversas camadas sociais que se diferenciam pelas variadas condições de sobrevivência, mas que têm em comum sua origem sertaneja. Estão todos unificados pela identidade com o mundo rural, pelo linguajar específico da região, pelos hábitos comuns de convivência social, pela relacão com a natureza, pelos mesmos sentimentos da religiosidade e da moral tradicional cristã. Neste CD os cantadores cearenses, Geraldo Amâncio e José Fernandes, apresentam parte da riqueza dos estilos de cantoria, integrando tradição e inovação. Os artistas retomaram uma das temáticas da tradição, a figura de Carlos Magno, a qual ainda se faz presente não só na cantoria e no cordel, mas na xilogravura, nos bailes de pastoris e em outras manifestações populares. No comentário do cantador Geraldo Amâncio, os feitos de Carlos Magno são tão conhecidos no sertão quanto a Bíblia Sagrada.

Elba Braga Ramalho"


Lista de músicas

01 - Sextilha
02 - Quadrão perguntado
03 - No tempo de Pai Tomás
04 - Sete linhas
05 - Gemedeira

Geraldo Amâcio - viola e voz
Zé Fernandes - viola e voz

Baixado do blogue viladepatos.blogspot.com.

4 comentários:

  1. Este blog é maravilhoso! Não sou cordelista, nem repentista ou xilógrafo, apenas um entusiasta desta linguagens e, dentro da minha capacidade, tento também contribuir para a difusão do trabalho e dos mestres destas culturas populares que tanto me cativam! Vi neste blog uma oportunidade ímpar de enriquecimento e aprendizado! Parabéns!
    Seu Ribeiro
    http://vielaslíricas.blogspot.com

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  2. Obrigado, cabra. Continue aqui e convide outros.

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  3. Não consegui baixar este CD. Como faço para adquirir?

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  4. Não consegui fazer dowload pelo link! Ainda tem como compartilhar?

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